'' Uma coisa horrorosa me assusta e eu quero algo que não é nem a minha mãe e nem a minha cama e nem a minha casa.
Olho meu carro na garagem da casa e tenho um segundo de alívio. Ainda existe ir embora. Mas da onde?
Eu sempre querendo ir embora. Mas pra onde?
Quero um colo quente e um ombro que nunca conheci. Não é de homem, de amor, de força. O que é isso?
Um enjoado que não faz passar mal. Um frio que não precisa de agasalho. Uma necessidade absurda de ir para um lugar que eu nem imagino qual seja. Uma saudade de vida inteira como se eu já tivesse vivido. Uma coisa enorme e ao mesmo tempo concentrada naquela picadinha de inseto atrás do meu joelho que incha e incomoda do tamanho do mundo. Uma angústia que estremece até aqueles cantos da gente que a gente passa batido. Uma coisa de cantos e não de peitos. Mas que acaba com o oxigênio.
Sento sozinha onde a vista é mais bonita. Aperto meu celular. Pra quem eu quero ligar? Quem? Ninguém.
Sento sozinha onde a vista é mais bonita. Aperto meu celular. Pra quem eu quero ligar? Quem? Ninguém.
Não é saudade de gente essa coisa. Não é coisa que passa de ouvir voz ou desejo ou coisas bonitas.
Então passa com o quê?''